A CURIOSIDADE DA RIQUEZA

Foto por Pixabay em Pexels.com

No início do mês de setembro, a minha esposa acompanhou os seus alunos da sétima série, de uma escola pública localizada em uma favela do extremo leste de São Paulo, para uma excursão no Museu da Imagem e do Som, no Jardim Europa, um bairro nobre da zona oeste paulista, parte da região conhecida como Jardins, da classe-alta.

Durante o passei no ônibus, ela me compartilhou que ao chegar nessa região de alto poder aquisitivo, os alunos começaram a brilhar os olhos ao verem as mansões, os carros de luxos, as piscinas, o “grande” espaço entre as casas, os bonitos prédios e as árvores, afirmando: “ Que lugar lindo”.

Ao ouvir isso, eu tive uma epifania! A sensação de entendimento e compreensão do comportamento de surpresa que os seus alunos tiveram ao verem de perto essa realidade social. E foi exatamente assim em minha época, um passeio da escola no Parque do Ibirapuera, me fez chorar em ver aquele lugar bonito que a gente assiste nos filmes e na tevê, diante dos meus olhos, existe uma estrutura urbana social adequada, prazerosa e bonita, eu pensava!

Enquanto eu pensava, lembrava que não tinha nenhum familiar ou parente em um lugar tão aconchegante assim. Entre os meus colegas e amigos, não reconhecia ninguém nesse ambiente, e isso ficou gravado em mim…

Lembro-me ainda que nesse período, eu compartilhei com uma professora esses meus pensamentos, e ela me disse e apontou algumas informações que estudamos na escola, em seus conceitos gerais, sobre a natureza humana corrupta, a essência do poder, as guerras, invasões, desapropriações de terras, as divisões de classe, as diferenças de oportunidades, as oportunidades herdades ou plantadas, as oportunidades perdidas, o pobre de espírito, a mais-valia, a economia desequilibrada, a meritocracia etc.

Nesse momento, uma professora entrou na conversa, e começou a xingar esse público rico, dizendo que eles conquistam as suas riquezas em cima dos pobres, e a outra professora retrucou e elas ficaram discutindo e eu sai correndo de lá…

Desde essa época eu comecei a estudar muito essa diferença entre ricos e pobres e tive um bom embasamento para entender essas duas realidades brasileira, principalmente a do meu lado – pobre. Sinto que divisões sociais a parte, todos nós deveríamos ter um espaço adequado para viver, aquilo que pudéssemos ter e manter. Viver, e não somente sobreviver.

No III volume do meu livro Favela no divã, eu me aprofundo mais sobre esse tema, onde apresentamos entre os conteúdos,  uma reflexão sobre o Joãozinho Trinta, inesquecível carnavalesco carioca, que imortalizou a frase: “O povo gosta de luxo; quem gosta de miséria é intelectual”.

No retorno do passei escolar com os alunos da minha esposa, ela me disse que eles se encantaram mais com o ambiente externo do que com os conteúdos que viram no Museu, cantando funk ostentação…

Leave a Reply

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *