DIA MUNDIAL DO LIVRO E DO DIREITO DO AUTOR. O QUE COMEMORAR?

Foto. Reprodução UNESCO Youth

Quando publiquei o meu livro Favela no divã, avisei todos os meus parentes, colegas, amigos e tive um retorno frustrante. Da minha parentela, que soma aproximadamente 250 pessoas, uma tia, a Deusalina, comprou, leu a obra e me deu parabéns. O meu pai, Francisco, é analfabeto e não quer estudar para ler o meu livro. Dos colegas e amigos, quase três mil pessoas, 55 é o número dos que adquiriram o livro. Ao todo, 207 dos meus livros foram comprados, somando os novos leitores, em seis meses de lançamento, não consegui pagar o investimento editorial que eu fiz. Nesse 23 de abril, Dia Mundial do Livro e do Direito do Autor, o que eu comemoro?

Nessa data, 23 de abril, é o Dia Mundial do Livro e do Direito do Autor, uma data escolhida pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) para celebrar o livro, incentivar a leitura, homenagear autores, refletir sobre seus direitos legais, considerado o elemento mais poderoso de difusão do conhecimento e o meio mais eficaz para sua conservação. Essa data foi escolhida em tributo aos escritores Miguel de Cervantes, Inca Garcilaso de la Vega e William Shakespeare, que morreram em 23 de abril de 1616.

Desde a XXVIII Conferência Geral da Unesco, em 1995, a data vem sendo conscientizada mundo a fora, sobre essa importante arte da humanidade, como elemento da sua cultura. Porém, desde que me tornei escritor, venho identificando um distanciamento sobre essa relevância, principalmente em meu país. Vamos aos números:

A taxa de analfabetização mais atual no Brasil foi divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE) em junho de 2019, onde na última Pesquisa por Amostra de Domicílios Contínua, o país brasileiro tinha pelos dados da época, pelo menos 11,3 milhões de pessoas com mais de 15 anos analfabetas, o que representa aproximadamente, o número de habitantes da cidade de São Paulo.

Durante a pandemia da Covid-19 o país retrocedeu 15 anos na alfabetização de crianças em um cenário que já não era considerado ideal pelos especialistas. O levantamento da Fundação Getúlio Vargas (FGV) aponta que, em 2019, a taxa de crianças fora das escolas era de 1,39%. Em 2020, esse número saltou para 5,5%.

Quando uma pessoa consegue sobressair desse cenário, ela pode ser encontrada facilmente no Analfabetismo Funcional, que é caracterizado pela dificuldade de exercitar determinadas atividades, como interpretar textos, escrever e fazer cálculos matemáticos simples — mesmo conhecendo letras e números.

Obra literária Favela no divã, na Biblioteca Municipal em Ferraz de Vasconcelos.

Outro dado triste, foi a pesquisa Retratos da Leitura, do ano passado, coordenada pelo Instituto Pró-Livro em parceria com o Itaú Cultural e realizada pelo Ibope.

O conteúdo da época, apontava muitos dados ruins – e o principal é que diminuiu de 56% para 52% o número de leitores no Brasil. A pesquisa entende o leitor como alguém que leu, inteiro ou em partes, pelo menos um livro nos três meses anteriores ao levantamento.

Ainda de acordo com os dados pesquisados, quem não lia, deu os seguintes motivos, entre outros menos significativos: falta de tempo (34%), não gosta (28%), não tem paciência (14%), prefere outras atividades (8%), tem dificuldade para ler (6%).

Em 2021 caiu o número de leitores no geral, mas cresceu o de crianças leitoras entre os 5 e 10 anos – a única faixa etária que teve um desempenho melhor em 2019 do que em 2015, períodos esses registrados pela pesquisa.

Outro aspecto que chama a atenção é o número crescente de livrarias que estão fechando, cidades sem livrarias ou até mesmo, sem bibliotecas, que você pode procurar esses dados no Google.

Quando publiquei o meu livro Favela no divã, avisei todos os meus parentes, colegas, amigos e tive um retorno frustrante. Da minha parentela, que soma aproximadamente 250 pessoas, uma tia, a Deusalina, comprou, leu a obra e me deu parabéns. O meu pai, Francisco, é analfabeto e não quer estudar para ler o meu livro. Dos colegas e amigos, quase três mil pessoas, 55 é o número dos que adquiriram o livro. Ao todo, 207 dos meus livros foram comprados, somando os novos leitores, em seis meses de lançamento, não consegui pagar o investimento editorial que eu fiz.

Nesse 23 de abril, Dia Mundial do Livro e do Direito do Autor, o que eu comemoro? Comemoro o fato de quando uma pessoa for despertada para a leitura, ter um consumo consciente, curioso e inteligente, ela se tornará uma versão melhor dela mesma, pois somos aquilo que lemos! Comemoro ainda, a aprovação da obra literária na Lei Rouanet, de Incentivo à Cultura, para distribuição do livro nas 179 unidades prisionais do Estado de São Paulo, e em escolas, o que me faz ter esperança nesse mundo literário em que inicio.

Segundo Gomes (2012), escrever é uma prática que se articula com a leitura – somente um bom leitor poderá se tornar um bom escritor, por várias razões. Primeiro porque o contato com os diversos gêneros e as análises de como se estrutura cada um deles fornecerá ao escritor os insumos necessários para o desenvolvimento da habilidade da escrita. Segundo, porque ler desenvolve a mente, e terceiro, porque acrescenta conhecimento de mundo

A leitura auxilia o desenvolvimento da escrita, pois, lendo, o indivíduo tem contato com modelos de textos bem redigidos que, ao longo do tempo, farão parte de sua bagagem linguística; e também porque entrará em contato com vários pontos de vista de intelectuais diversos, ampliando, dessa forma, sua própria visão em relação aos assuntos. Como a produção escrita se baseia praticamente na exposição de ideias por meio de palavras, certamente aquele que lê desenvolverá sua habilidade devido ao enriquecimento linguístico adquirido através da leitura de bons autores. (PACHECO,1993).

“Quem mal lê… Mal ouve, mal fala, mal vê”, Monteiro Lobato.

Marcelo Barbosa. Escritor, Radialista, Jornalista, Pedagogo e Psicanalista.

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