Recentemente, participei de um programa de TV sobre saúde mental dos estudantes e, após a entrevista, recebi várias mensagens com espanto e curiosidade sobre um ponto que mencionei: por que tantos estudantes parecem não levar os estudos a sério e só querem saber de brincar?
Como o tempo na televisão é curto, quero aproveitar este espaço para explicar melhor essa reflexão, que vem da minha experiência clínica com jovens de diferentes realidades sociais.
Na prática psicanalítica, observo um padrão curioso: muitos adolescentes dizem não gostar de estudar porque foram ensinados a brincar, mas ninguém os ensinou o momento de parar. Pode parecer apenas mais uma desculpa da “geração atual”, mas é uma fala bastante assertiva — e vou explicar o porquê.
Durante a Educação Infantil, depois de anos de luta por uma pedagogia mais humanizada, as crianças finalmente passaram a ser reconhecidas como sujeitos de direitos, com linguagem e ritmo próprios. Nessa fase, o aprendizado é construído por meio do brincar — o que é fundamental e saudável para o desenvolvimento.
O problema começa na transição para o Ensino Fundamental. A mesma criança que foi estimulada a aprender brincando, entra em um novo ambiente, mais rígido, com regras e expectativas que desvalorizam o lúdico. De repente, aquilo que era um direito — o brincar — passa a ser visto como distração.
Mas aqui está o ponto crucial: ninguém ensina a criança a fazer essa transição. Ela é incentivada a brincar, mas não é preparada para reorganizar esse comportamento, para separar o tempo de brincar do tempo de aprender de outra forma.
Quando chega ao Ensino Médio, esse adolescente é cobrado como um adulto — precisa ter foco, responsabilidade e metas —, mas não entende por que estudar parece tão chato ou distante. Sente-se perdido e desamparado.
A verdade é que os jovens não são culpados. O sistema educacional e a sociedade falham ao não ensinar sobre as mudanças de fase da vida, sobre como lidar com as novas exigências e sobre a importância de se preparar emocionalmente para elas.
Agora que você sabe disso, olhe com mais empatia para esse comportamento. E, se estiver enfrentando dificuldades semelhantes — seja como pai, mãe, educador ou estudante —, busque apoio profissional.
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