Morro da Favela (atual Morro da Providência, no Rio de Janeiro), em 1927.
A Lei Áurea, oficialmente Lei n.º 3.353 de 13 de maio de 1888, sancionada pela então Princesa Isabel , aboliu a escravidão no Brasil. Porém, o Treze de Maio, representa uma falsa liberdade, uma vez que, após essa Lei, os negros foram entregues à própria sorte e ficaram sem nenhum tipo de direito diante de sua nova situação de vida social.
Os negros libertos foram buscar moradia em regiões precárias do Rio de Janeiro, e afastadas dos bairros centrais das cidades, entre eles, os morros, onde a partir de 1890 o povoamento por moradores despejados de cortiços e por soldados que participaram da Guerra de Canudos, formam a primeira favela no Brasil, chamada de Morro da Providência.
Com isso, o dia 20 de novembro tornou-se a data para celebrar e relembrar a luta dos negros contra a opressão no Brasil, entre elas, a falta de moradia adequada. Por essa razão, “O Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra, foi instituído oficialmente pela Lei nº 12.519, de 10 de novembro de 2011. A data faz referência à morte de Zumbi, o então líder do Quilombo dos Palmares – situado entre os estados de Alagoas e Pernambuco, na Região Nordeste do Brasil.
Zumbi foi morto em 1695, na referida data, por bandeirantes liderados por Domingos Jorge Velho. A data de sua morte, descoberta por historiadores no início da década de 1970, motivou membros do Movimento Negro Unificado contra a Discriminação Racial, em um congresso realizado em São Paulo, no ano de 1978, a elegerem a figura de Zumbi como um símbolo da luta e resistência dos negros escravizados no Brasil, bem como da luta por direitos que os afro-brasileiros reivindicam.
Nessa data, 20 de novembro, o que não falta são dados de quantos negros moram em favelas, qual a situação profissional, de renda e sua escolaridade, quantos desses negros fazem parte do sistema carcerário brasileiro, quantos morrem na violência urbana do crime organizado ou do patrulhamento violento da polícia, são vítimas do preconceito, racismo, entre outros assuntos. Ainda nessa data, faz 134 anos, que entre as negligências, os negros continuam lançados ao caos social da favela, sem direito de uma moradia digna em pleno século XXI!
Eu, como membro de uma parentela de origem indígena e negra, e sou pardo, comecei em minha adolescência a questionar essa estrutura social em que eu também vivia, e me surpreendi em observar que entre minha própria descendência existia a aceitação de que apesar da história e dificuldades sociais da favela – e sua conversão para comunidade, ela, a favela, é o que tem e está bom.
A favela do século passado, não foi uma escolha do negro, em boa medida, ela foi uma condição forçada. Na atualidade, a situação das favelas e comunidades brasileiras é condicionada pela falta de política públicas específicas. Sobre essa questão política, vários líderes e movimentos brasileiros apresentam desenvoltura para enfrentar essa calamidade social, mas alguns deles sem se preocupar em modificar o ambiente.
Eu, como um experiente morador de favela e pesquisador do assunto, ainda vejo a romantização sobre a estrutura urbana irregular e frases de efeitos fazias, mas apesar disso, é um bom começo para a estrutura psíquica humana montar uma informação consciente e formar ideias e ações de luta contra esse sistema que eu vou chamar de”favelização”.
O que eu tenho certeza, é que como o título do meu livro: ‘Favela no divã”, essa estrutura urbana social, não sairá da terapia nos próximos 100 anos…