No segundo volume do meu livro “Favela no divã – A pseudo-herança”, eu compartilho a triste experiência que eu e minha esposa passamos, ao perder o nosso primeiro filho, no quinto mês de gestação, por um aborto espontâneo, na cidade de Mogi das Cruzes. No dia 29 de novembro de 2013, eu voltava da cobertura de um jogo de basquete às 22 horas, e chegando na redação, recebi o telefonema da minha esposa aos prantos que ela estava perdendo muito sangue, onde saí correndo para casa. A noite estava estrelada, o ar fresco e a rua já sem movimento pelo horário noturno de um bairro calmo.
Cheguei em casa antes da ambulância do SAMU e encontrei o banheiro ensanguentado, onde ajudei a minha esposa a se trocar. Já no hospital, a Alice foi direto para a UTI e fiquei aguardando na recepção da unidade hospitalar. Dez minutos depois chamam o meu nome, me encaminham para um sala e me informam que a minha esposa tinha perdido o bebê por aumento da pressão arterial.
Questionei a profissional sobre a saúde do bebê, se ele estava bem, e ela informou – em um tom de voz mais alto – que foi um aborto espontâneo e a criança estava morta há pelo menos uma hora. “Então quando eu vi as estrelas, ele já estava morto”, pensei. Reiteraram a informação novamente e me pediram para voltar no outro dia ao hospital. Eu saí e fiquei chorando na calçada.
Nos últimos dias, venho sendo procurado por país que perderam os seus filhos prematuros e não conseguiram engravidar novamente, querendo uma opinião pessoal para saber se devem aderir ao novo fenômeno de bebes reborn, as tais bonecas hiper-realistas. Como se trata de uma opinião e não um tratamento terapêutico, respondi para os casais que não deveriam e apresentei as razões pelas quais não seria saudável fingir que um boneco é um filho humano e eles estariam exercendo uma maternidade e paternidade. Reforcei que se fosse apenas para preencher o vazio, a moda dos “filhos animais” (cachorro, gato, etc.) poderia até ser mais aceitável.
Um dos casais, ao qual nos conhecemos há um tempo, questionou que apensar de eu ter perdido o meu primeiro filho, eu consegui ter dois meninos – depois de muito tempo – e por conta da minha superação, não estava exercendo a empatia com esse contexto. Respondi aos amáveis colegas, que eles estavam errados. Apesar de ter conseguido ter filhos que superaram o nascimento prematuro – Um de seis meses e outro de oito meses -, isso não significa que eu e minha esposa trocamos a perda da morte do primeiro, com a vida de dois que sobreviveram, isso não existe!
Nós o perdemos, nós sofremos com a sua partida e em nossa primeira gestação, fomos carimbado com a morte do nosso filho e quase da minha esposa. O nosso primeiro filho que era único, não seguiu com a sua existência. Reforcei com o casal que não existe substituição! O que existe é o reconhecimento que o perdemos, e reinou o silêncio…
Como digo aos meus pacientes: Quando encontramos a realidade, resistir é sofrer!
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